Antes de iniciar um neófito nos mistérios de seus ensinamentos, o filósofo Pitágoras submetia o candidato a uma série de testes destinados a fortalecer seu caráter e que permitiam a Pitágoras julgá-lo. Assim, o noviço entre os sábios de Crotona a tudo ouvia, mas jamais fazia perguntas. Por meses sem fim era ele submetido à disciplina do silêncio de modo que quando finalmente lhe permitissem falar outra vez só o fizesse com circunspecção e reverência. Ele tinha aprendido, pela experiência pessoal, que o silêncio é quase um poder divino -- a mãe de todas as virtudes.
Por que é que nós não seguimos os sábios preceitos de Pitágoras? O maior problema no mundo hoje é a falta de silêncio. A sociedade moderna não apenas está literalmente envenenada pelo tumulto de máquinas (inclusive as que falam), mas também—e especialmente—está saturada com palavras barulhentas e vazias. Importa hoje quem fale mais alto, quem apresente melhores argumentos, quem conte sua versão dos acontecimentos com detalhes os mais insignificantes.
Como estava certo Kierkegaard, o grande pensador escandinavo, ao escrever: “O mundo em seu estado atual está doente! Se para tanto eu fosse um médico e me pedissem conselho, recomendaria: “Fica em silêncio!”
O verdadeiro Rosacruz pode ser reconhecido por sua temperança oral, entre outras virtudes. É comedido no falar, e suas palavras são ricas em significado. Ele põe em prática o conselho de um mestre Sufi: “Se a palavra que você vai falar não é mais bela que o silêncio, então não diga!”
Quando buscamos a Iniciação, devemos guardar silêncio não apenas para com os outros, mas também para conosco mesmos. Compreendamos isto melhor. É no silêncio que o Cósmico e o Ser Divino, tornam-se manifesto à nossa consciência. Para que ouçamos a orientação Divina, para termos lampejos de intuição, devemos aprender a silenciar a voz subjetiva do nosso pensamento. A Bíblia ensina isto, simbolicamente, no primeiro livro dos Reis (Cap.19,11-12), onde vemos o profeta Elias refugiado no deserto, esperando uma mensagem do Senhor. “Sai para fora, e põe-te neste monte perante a face do Senhor. E eis que passava um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as pedras diante da face do Senhor; mas o Senhor não estava no vento, e, depois do vento, um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; e depois do terremoto, um fogo; porém, o Senhor também não estava no fogo; e, depois do fogo, uma voz doce e silente.”
Um dos maiores místicos da França, Louis Claude de Saint-Martin, merecia ser chamado de “o silencioso desconhecido” por seus discípulos. Mais do que ninguém, enaltecia ele a virtude do silêncio. Escreveu: “Grandes verdades são ensinadas somente pelo silêncio.” Ainda melhor é sua observação que infelizmente tão bem se aplica aos tempos atuais: “Haverá maior prova da fraqueza do homem que a multiplicidade de suas palavras?”
É bem verdade que o silêncio é um autêntico teste para aquele que, por hábito ou tendência, não pode observá-lo. A tradição conta que os antigos fizeram do silêncio uma divindade: na Grécia, o deus Harpócrates, e em Roma, a deusa Tácita, nome este muito bem empregado visto que se origina da palavra latina tacere, que significa “estar em silêncio”. Isto demonstra o grau a que os antigos prezavam esta virtude.
Ordem ROSACRUZ - Curitiba/PR |
Como dissemos nesta mensagem, a disciplina do silêncio constitui poder; ela nos permite manter dentro de nós um influxo de vitalidade que as palavras inúteis desperdiçam. Antes de falar, procure avaliar se o que você vai dizer é meritório; se pode ocasionar algum bem e, especialmente, se não vai provocar nenhum mal. Você perceberá que o esforço que fizer para reprimir uma palavra inútil provoca uma reação interior, um esforço contra a tentação. Cada vitória trar-lhe-á novo poder. E este é o motivo por que é uma atitude sábia seguir o conselho do mestre sufi, de que se aquilo que você vai falar não é mais belo que o silêncio, então não fale.
Medite sobre esta mensagem, pense nela com frequência. Nossa esperança é que o silêncio o ajude a subir mais um degrau na escala da espiritualidade.***
Artigo publicado na Revista o Rosacruz da Ordem Rosacruz AMORC
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