“Árvores da floresta, vós conheceis minha alma!
À mercê dos invejosos, a multidão louva e difama;
Vós me conheceis! Vistes-me tantas vezes,
Só, em vossas profundezas, contemplando e sonhando.
Vós o sabeis, a pedra onde corre um escaravelho,
Uma humilde gota d’água, de flor em flor, tombada,
Uma nuvem, um pássaro, ocupam-me todo um dia.
A contemplação enche-me o coração de amor.
Cem vezes me vistes, no vale obscuro,
Com as palavras que o espírito dita à natureza,
Questionar tudo, sob vossos ramos palpitantes,
E, com o mesmo olhar, perseguir, ao mesmo tempo,
Pensativo, a fronte baixa, os olhos no capim profundo,
O estudo de um átomo e o estudo do mundo.
Atento a vossos ruídos que alguma coisa dizem,
Árvores, vistes-me fugir do homem e buscar Deus!
Folhas que tremem na ponta dos galhos,
Ninhos de onde o vento para longe semeia brancas plumas,
Clareiras, verdes ravinas, desertos sombrosos e doces,
Sabeis que sou calmo e puro como vós.
Como ao céu vossos perfumes, meu culto a Deus se lança,
E sou pleno de esquecimento, como vós, de silêncio!
O ódio, sobre meu nome, espalha em vão seu fel;
Sempre, – atesto-vos, ó bosques amados do céu!
Expulsei longe de mim todo pensamento amargo,
E meu coração continua tal como o fez minha mãe!
Árvores dos grandes bosques que se agitam sem cessar,
Eu vos amo, e a vós, heras no umbral de antros surdos,
Campinas onde se ouvem filtrar as fontes vivas,
Riachos que os pássaros pilham, alegres convivas!
Quando estou entre vós, árvores dos grandes bosques,
Em meio a tudo que me cerca e também me oculta,
Em vossa solidão, onde entro em mim mesmo,
Sinto alguém grandioso que me escuta e que me ama!
Também, sarças sagradas onde Deus em pessoa aparece,
Árvores religiosas, carvalhos, musgos, floresta,
Floresta! É em vossa sombra e em vosso mistério,
É sob vossa folhagem augusta e solitária,
Que desejo abrigar meu sepulcro ignorado,
E que desejo dormir, quando me adormecer.”
VICTOR HUGO (1802-1885)
Fonte: www.facebook.com/AMORCGLP
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